quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A explosão do momento

Comento aqui, com um pouco de atraso, o caso da estudante Geyse Campos quase linchada e expulsa da faculdade em que estudava, a Uniban, por estar vestindo uma minisaia.
Acho que as pessoas tem que ter noção do ambiente em que elas estão. Em todo espaço há uma espécie de código de leis informais e invisíveis, que sabemos simplesmente por convivência. Em um meio acadêmico se exige um mínimo de austeridade, para que as discussões não caiam em anarquia. Mas também o mesmo meio universitário exige liberdade, a tolerância de diferente opiniões e, por que não, estilos, paa viabilizar e cultivar o debate.
Em algumas universidades se exige mais austeridade, em outras mais liberdade. Pelo que percebi a Uniban se encaixaria no primeiro grupo. Mas isso, de forma alguma, justifica a perseguição e violência gratuita contra a estudante, ao contrário, evidencia a contradição desse estabelecimento e da turba que a gerou. Ora, como podem pessoas, que alegam ser sérias, tentarem lincharem uma estudante por causa de uma minisaia ou abrir um inquérito para verificar se ela encurtou ou não a saia?
Ou seja, ao meu ver, todos estavam certos e errados ao mesmo tempo. Esse acontecimento pode revelar muita coisa, sobre a nossa moralidade ou nossas universidades, mas para mim o principal é que esse singelo fato comprova a afirmação do filosófo polonês Zygmunt Bauman de que perdemos algo que possa nos unir. Essa sociabilidade que antes vinha da defesa de valores, ideologias, mudou. E no dizer de Bauman, "sem poder extravasar normalmente, nossa sociabilidade tende a se soltar em explosões espetaculares concentradas - e breves, como todas as explosões". A explosão do momento é a da moça da Uniban.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Santuário de Santa Terezinha



Um dos cartões postais de Taubaté é, sem dúvida, o Santuário de Santa Terezinha.

O templo foi feito em estilo gótico e seu altar possui peças vindas da Espanha, muitas da escola barroca. A enorme e roxa igreja parece destoar do resto da Praça da qual faz parte, Praça aliás que possui uma história própria muito original (talvez falemos disso mais tarde).

O Santuário foi o primeiro no Brasil a se dedicar ao culto de Santa Terezinha do Menino Jesus. A santa francesa era a santa preferida do primeiro bispo da cidade, D. Epaminondas Nunes Ávila, no entanto seu processo de beatificação foi bastante demorado, o que não impediu que o bispo iniciasse as construções de seu santuário.

Santa Terezinha era uma religiosa da cidade francesa de Lisieux que produziu bastantes escritos místicos e didáticos. Esses últimos eram direcionados aos jovens, segmento que estava no momento, se afastando muito da Igreja. A escolha da santa para a construção de um novo santuário tinha o interesse pastoral de aproximar-se dos jovens locais.

A construção do Santuário começou em 1924, mas por causa da escassez de recursos, só foi ser concluida em 1940. A diocese dependia dos donativos dos fiéis para continuar a construção. Os donativos vinham de todo o Brasil e tinham o consentimento de Roma. Um dos donativos mais famosos foi o altar barroco, doado pelo núncio apostólico.

A construção do Santuário andava lado a lado com a construção de uma devoção. A santa era muito nova, a canonização ainda não tinha sido nem efetuada, por isso a diocese empreendeu uma campanha para popularização da santa. Essa campanha, além dos sermões e festas religiosas, tinha como instrumento principal a imprensa. Em 1925, o jornal da diocese O Lábaro se transforma em O Santuário de Santa Terezinha. Até a segunda metade dos anos 30, quando voltou a ser O Lábaro, o jornal capitaneou campanha para arrecadar donativos para a construção do templo, dava constantemente notícias sobre a situação das obras e produzia artigos sobre a santa e a juventude. Nessa mobilização se sobressaiu o padre Cícero de Alvarenga (desenho), tornando-se um grande nome da imprensa local. A história de padre Cícero se confunde com a história do Santuário. Em 1924 foi nomeado vigário do futuro Santuário e permaneceu no cargo até 1988 quando veio a falecer, nesse período ajudou a divulgar a devoção por meio dos seus artigos no jornal da diocese e demais jornais locais, criou campanhas e festas para arrecadar benesses, além de celebrar todos os casamentos, batizados e crimas das redondezas.

Seja como for, a devoção á santa conseguiu atingir o povo taubateano de tal modo que hoje, quase 80 anos depois de sua construção, o Santuário se tornou mais que um cartão postal. Tornou-se parte marcante da anatomia religiosa local.

Notícias desalentadoras do Primeiro Mundo

Recomendo a leitura do post Onde os Estados Unidos são Terceiro Mundo no blog da Raquel Rolnik, uma das maiores urbanistas brasileiras e agora relatora da ONU sobre moradia nos EUA. É nesse último cargo que ela fez uma pesquisa no país no decorrer do ano e chegou a conclusões não muito boas sobre como andam vivendo/morando os estadunienses depois da crise.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Muros

O Muro de Berlim foi construído em 13 de agosto de 1961, literalmente feito em um dia. O propósito imediato era evitar com que os alemães emigrassem todos para a Alemanha Ocidental.

Por dividir um país em comunismo e capitalismo, o Muro se tornou símbolo da Guerra Fria, portanto não é de se estranhar que quando ele foi derrubado em 09 de Novembro de 1989 essa foi eleita por muitos a data do fim da Guerra Fria e é isso que se comemora nesse dia. O dia em que o mundo saiu de uma espiral de paranóia e violência. Mas aí fica a pergunta: saiu mesmo?

Gostaria de lembrar um fato curioso: em 2000, o governo de Israel construiu um muro na fronteira do país com a Palestina. Enquanto no primeiro o interesse era impedir de sair este é o de impedir de entrar. O Muro de Israel será o símbolo de uma nova Guerra Fria, de um "choque das civilizações" como disse Huntington? Não sei, acho que ainda é cedo para dizer. O que tenho certeza é que o mundo não saiu de uma espiral de paranóia e violência, apenas entrou em outra.

Não estou desmerecendo a comemoração da queda do Muro de Berlim, apenas chamando a atenção para outros muros que ainda não cairam. O de Israel é um deles. Independentes dos israelenses estarem certos ou errados, essa atitude demonstra até que ponto chegou a situação do Oriente Médio e nos faz pensar em uma outra pergunta: conseguiremos ver a paz?

sábado, 7 de novembro de 2009

Anselmo Duarte

Faleceu hoje uma das figuras míticas do nosso cinema: Anselmo Duarte.
Fez sucesso como galã das chanchadas da década de 1940 e 50, mas sempre escreveu roteiros e não raro dirigia. A oportunidade de mostrar ao mundo essas suas outras facetas veio com o filme Absolutamente Certo, mas é com O Pagador de Promessas que se consagraria.
Duarte, adaptando a peça de mesmo nome de Dias Gomes, deu um novo ânimo ao cinema brasileiro, por muitos é considerado o precurssor do Cinema Novo (pela sua estética, seu apelo popular, sua visão social, dentre outras coisas).
A história gira em torno da promessa que Zé do Burro fez para curar seu burro, que era seu sustento. A promessa é simples: carregar uma cruz até a Igreja do Bonfim. O lugar é que é o problema: ele fez em um terreiro de umbanda. Começa toda uma confusão em torno do pagador de promessas e o padre que não quer que ele entre na Igreja por causa da natureza da sua promessa.
Vi recentemente uma entrevista de Anselmo, na qual ele disse que ao final da exibição do seu filme em Cannes houve um burburinho entre os jornalistas, os representantes do clero, os críticos e os atores sobre a tradição, a questão social e tudo mais. A partir daí o cinema brasileiro, até então encarado como produção inferior pela opinião pública por ser do Terceiro Mundo, passou a ser valorizado, o que começou a ser retomando, ainda que lentamente, hoje.
Para quem quiser saber mais sobre Anselmo recomendo esse link:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u611604.shtml

Grupo de Estudos e Pesquisa

Na Universidade, o grupo de estudos é uma instituição importante. Numa faculdade de História, é fundamental. Ainda mais se for em uma cidade com uma história tão rica e ao mesmo tempo tão difícil de ser estudado por conta de sua variedade de fontes.

Um grupo de estudos e pesquisa é fundamental para a faculdade na medida em que a troca de informações entre os pesquisadores pode gerar contribuições mútuas para suas próprias pesquisas. Como já dissemos, pesquisar a história, especialmente do Vale do Paraíba e Taubaté, é, simultaneamente, saboroso e frustrante.

Nesse sentido, eu e alguns alunos do primeiro ano de História criamos um grupo de estudos. Nosso tema central é a história da cidade de Taubaté no começo do século XX, no entanto, cada um abordou de uma perspectiva como a imprensa, o esporte ou o cinema por exemplo. Em breve publicaremos o resultado de nossos trabalhos em uma página da internet.

É importante ressaltar, entretanto, que nós não somos pioneiros nisso, nem somos os únicos a termos grupos de estudo e pesquisa, eu mesmo, no decorrer dos trabalhos, descobri muitos. Por isso tivemos a idéia de unir esses grupos, embora conservando a autonomia de cada um, para divulgar seus trabalhos e trocarmos "figurinhas" entre eles. Por enquanto é só uma idéia. Mas as idéias, mesmo sendo idéias, costumam ser muito poderosas, tomara que essa seja assim também.

Desenvolvimento: o conto da carochinha moderno

Ontem, sexta, tivemos o privilégio de assistir uma palestra do professor Sílvio Luiz Costa sobre seu livro Taubaté: o local e o global na construção do desenvolvimento
Tanto o livro como a palestra foram ricos de questionamentos, reflexões e aprendizado. Estou certo de que essa experiência despertou em muitos colegas de sala o interesse pela pesquisa em história regional.
Em linhas mestras, o prof. Sílvio analisou a instalação de indústrias na cidade através de uma análise crítica do desenvolvimento. Que análise seria essa? Baseado em autores como Boaventura Santos, Giovanni Arrighi e Amartyas Zen, o autor questionou essa visão de que a industrialização gera desenvolvimento, de que desenvolvimento representa crescimento econômico e não melhoramento das condições de vida da população.
Essa imagem questionada pelo prof. Sílvio faz parte de uma imaginário, estando presente tanto na política como no resto da população. Daí decorre de que todos clamem a industrialização como motor do desenvolvimento e o "bom emprego". É essa mentalidade que faz as prefeituras, como as de São José dos Campos e Taubaté, entrarem na conhecida guerra fiscal (concessão de benefícios fiscais para a instalação de indústrias em seu território).
Por meio de dados empíricos, o autor mostra que a geração de empregos prometida pelas empresas e pelo discurso político não aconteceu. Acentuou-se as desigualdades locais; bairros operários foram criados e continuaram sem investimento tanto da prefeitura como das empresas na sua infra-estrutura.
O estudo do prof. Sílvio Costa não é apenas um trabalho sobre a história regional, ele serve como uma espécie de análise da realidade de muitos governos municipais pelo Brasil e uma constatação de que políticas imediatistas e que se concentrem em um só setor sempre saem pela culatra.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Faroeste macarrônico


O cinema italiano tem muitos méritos, um deles, curiosamente, é o de produzir os melhores westerns ou filmes de bangue-bangue.
Curioso, já que esse gênero é quase que totalmente relacionado aos Estados Unidos (seja na temática como na técnica), mas westerns fora dos EUA foram uma verdadeira febre que assolou a Europa entre os anos de 1950 e 1970, da qual o cinema italiano foi mais bem sucedido.
A febre do spaghetti western começou com o diretor Sérgio Leone. Seus filmes inovaram por transformarem a trajetória dos personagens do velho oeste em espécies de épicos, graças á junção entre a música clássica e experimental de Ennio Morricone, a fotografia panorâmica e quase barroca e sua alternação com os closers.

Esse estilo promoveu uma renovação dos filmes de faroeste e realmente com razão. Embora seja suspeito para falar dos méritos de Leone na condição de fã de alguns de seus filmes, posso com certeza dizer que esse diretor levou um pouco de liricismo para as telas, principalmente de um tipo de filme que não preza muito por essa beleza estética.
Mesmo admirando alguns de seus filmes, há que se ressaltar seus defeitos. Um deles é a longa duração de suas histórias e o ritmo lento delas. Em alguns momentos, esse ritmo dá bons frutos, como, por exemplo, antes dos tiroteios e confusões - como se fosse uma espécie de prelúdio da violência - , mas em outros, como por exemplo, o famoso "trielo" de Três Homens em Conflito, ele se torna um pouco incoveniente.
Os filmes de faroeste, depois de Leone, viraram cult e ele fez escola, tanto na época como nos dias atuais (seus maiores discípulos são Quentin Tarantino, Robert Rodriguez e etc.). Infelizmente, a maioria de seus discípulos não conseguiram imprimir em seus filmes a liricidade dos de Leone e, em um mundo cheio de blockbusters e enlatados, essa liricidade faz uma falta impressionante.

Acompanhe

Aqui muito se fala em cidadania, acho que vocês já perceberam, agora vamos poder finalmente dar um empurrãozinho nela.
Farei isso com base em um post do nosso colega República dos Bananas, muito bom por sinal, que também se baseou, por sua vez em uma matéria do Jornal de Jundiaí. O link para o post está aqui: http://republicadosbananas.com.br/2009/10/12/exija-cobre-e-acompanhe/

Colocarei aqui links para investigar o poder público da cidade e do resto do país.
-Transparência Brasil : http://www.transparencia.org.br/index.html
-Contas Abertas: http://contasabertas.uol.com.br/asp/
-Políticos Brasileiros: http://www.politicosbrasileiros.com.br/
-Transparência Taubaté: http://transparenciataubate.blogspot.com/
-Câmara de Taubaté: http://www.camarataubate.sp.gov.br/

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Civilização

O que Facundo de Domingos Sarmiento e Os Sertões de Euclides da Cunha tem em comum, além é claro de possuirem o status de as maiores e primeiras obras-primas das litetaturas da Argentina e Brasil, respectivamente? Ambos possuiem uma visão muito cara á história da sociedade latino-americana: civilização versus bárbarie.
Em um, o campo é a bárbarie e a cidade (o qual o maior exemplo é Buenos Aires) a civilização; noutro, o interior é a bárbarie e o litoral a civilização. Seria o caso de perguntar porque eles chegaram a tais conclusões. Sarmiento considerava o campo o local da bárbarie, do arcaico e do deplorável por ser o habitat dos caudilhos e da maioria da população nacional, cultivando tradições "ultrapassadas" e sendo manobrada pelos primeiros. Euclides não foi muito longe: para ele o sertão era um local inóspito e selvagem e o litoral o lugar da civilização. Porém, Euclides, diferente de Sarmiento, nutria um pouco de simpatia pelo sertanejo, por ele ter-se feito sozinho, sem ajuda do governo que se dizia o "Reino da Razão" e que agora vinha pela primeira vez até eles para esmagar uma revolta.
Se pensarmos bem, essa dicotomia era muito simples: é o embate entre o que somos e o que queremos ser (na época pelo menos). A Europa estava passando pelo imperialismo e pelo avanço tecnológico, a Segunda Revolução Industrial produziu uma fé desmensurada no progresso como o regenerador das nações e da humanidade. Por isso não é de se estranhar a importação de idéias e de pessoas (incentivo á imigração, por exemplo) do Velho Mundo para o Novo Mundo. No entanto, muitos dos nossos intelectuais foram cegados pelo ideal do progresso e da ocidentalização. Não conseguiram enxergar outros meios de desenvolver seus países e sua população. Se enveredaram pelo autoritarismo e o radicalismo. Se foram astutos em analisar a situação de sua gente, por outro lado, muitos foram arrogantes em se livrar de algumas limitações, como por exemplo o uso da força desnecessária. Sarmiento, por exemplo, grande crítico do autoritarismo e violência dos caudilhos, promoveu um verdadeiro massacre de índios na Argentina para desenvolvê-la através do branqueamento da população.
Mas essa é a verdadeira crônica da história da América Latina: no caminho do desenvolvimento (principalmente social) sempre andamos "aos trancos e barrancos", parafraseando Darcy Ribeiro.

União?

Chamo a atenção para dois fatos curiosos:
No edital d'A Folha, jornal taubateano da década de 1930 de propriedade do jornalista Evaristo Campos, do dia primeiro de novembro de 1931, número 13, fala-se sobre a época áurea da imprensa local (6 jornais de grande circulação dividindo o mesmo espaço!) e levanta a bandeira de organizar os jornalistas da cidade em torno de uma associação que protegesse os interesses dessa classe. Mencionam o fracasso da Associação Norte-Paulista de Imprensa e propõe um modelo de menor abrangência.
No livro Memórias da Mídia Taubateana de Eliane Freire de Oliveira e Francisco de Assis existe uma parte do depoimento de um grande nome da imprensa loca, dentre tantos, chamado Waldemar Duarte (criador dos jornais A Voz da Cidade e A Voz do Vale do Paraíba, entre os anos de 1950 e 1970), que é muito interessante. Comentando a situação da Associação Taubatana de Imprensa e Rádio, que fundou e por isso é seu presidente honorário, ele nos revela que a associação está (ou pelo menos até o começo do ano 2000, quando foi feito o depoimento) sem sede e que não entra quase ninguém mais nela.
Vejam só, a imprensa, uma instância muito importante para a sociedade, enfrenta desde o começo do século passado até agora dificuldades para se reunir e discutir seus problemas. Por quê isso? Waldemar atribui a culpa á descontinuidade dos governos municipais (um incentiva, o outro não e por aí vai) e á visão imediatista e fechada dos novos profissionais que só querem passar na faculdade e ter um emprego. Na minha opinião, essa dificuldade em organizar alguma coisa não é só na imprensa, mas em quase todos os outros setores da sociedade, por causa dessa cultura de não participação formada no nosso país desde os tempos da colônia. Até curá-la desse problema acho que a imprensa local ainda tem muito chão (esburacado) para andar.