sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ode á borracha

Já que falamos sobre Álvaro Maia e seu sonho pela volta dos tempos do boom da borracha, colocarei aqui um de seus poemas, esse sobre a seringueira.

SERINGUEIRA

Seringueira (Hevea Brasiliensis) - foto: Washington Lins.
 Álvaro Maia

Ó gérmen do celeiro, ó bendita semente,
que trazes no tecido o vigor destas zonas,
brota, deslumbra, mostra o delírio fremente
das florestas, dos céus, dos rios do Amazonas.
Quantas bênçãos de luz nao te brilham nas franças,
que harmonizam de dia o rincão que adoramos...
Resplende em tua fronde um fanal de esperanças,
solta hosanas a noite o oboé dos teus ramos...
Rainha poderosa imperando na mata,
com tua ardente seiva o terreno enriqueces...
E, às carícias do sol e aos luares de prata,
esbanjas a bondade, entreabrindo-te em preces ...

És a imagem ideal do crescer formidando,
do holocausto divino em favor de quem chore...
Dão-te golpes na casca e, em resposta, cantando,
dás teu leite e teu pão, que são gotas da aurora...
Sacodes tua copa aos clamores do vento,
ofereces ao solo o teu pólen fecundo...
Sorves pela raiz o abençoado alimento
para dar alimento aos que vivem no mundo...
Ó florestas, ó céus, ó rios do Amazonas,
estacai um momento e, em delirio fremente,
levantai orações ao porvir destas zonas,
ao galho, à folha, à flor, ao perfume, a semente ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário