sábado, 23 de julho de 2011

Historiador como ogro

Marc Bloch, medievalista francês e um dos fundadores da Escola dos Annales dizia em seu último livro - Apologia da História ou Ofício do Historiador -  que o historiador deve ser como o ogro. O ogro é um monstro do folclore europeu que lembra muito um gigante que adora comer pessoas. Seu olfato era ótimo, rastreava as pessoas á quilometros de distância.
O que Bloch queria dizer com essa comparação? Que o historiador se torne um canibal? Não, ele completa sua frase dizendo que o historiador deve "farejar a carne humana". Ou seja, ele deve encontrar os homens nas fontes, sejam elas quais forem (livros, documentos, monumentos, arquitetura, culinária, etc).
Bloch acreditava que a História é a ciência dos homens no tempo, nada mais coerente que se procurasse em cada fonte achar algum resquício do homem que a produziu. Vários métodos surgiram no século XX que vieram a ajudar a História á cumprir a ordem de Bloch, como a arqueologia por exemplo, e outras, que já existiram antes, finalmente foram vistas como colaboradoras nessa missão.
Assim, o historiador quando se lança ao estudo de uma língua, de artefatos ou de costumes está tentando ver através deles, está tentando enxergar o homens (ou os homens) que os produziram.
A afirmação de Bloch é importante porque ela quebra com o fetiche pelos documentos que os historiadores anteriores, os positivistas, tinham. Para eles só os documentos oficiais eram fontes históricas e a História era basicamente a história de grandes homens. Bloch diz que a história é feita por todos os homens e que não importa qual fonte seja, se ela tem "cheiro" de gente, o historiador deve usá-la. Ampliando o campo de fontes, Bloch assim daria a deixa para os métodos de que falamos antes, que ajudariam a "farejar" melhor o homem. A interdisciplinaridade foi uma das maiores contribuições da Escola dos Annales para o historiador. Ela melhorou em muito o olfato dos historiadores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário